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"Gracias negrito" - A falar é que a gente se ofende

  • Foto do escritor: Pedro Paupério
    Pedro Paupério
  • 20 de ago. de 2021
  • 27 min de leitura

Atualizado: 11 de fev. de 2022

Este projeto visa compreender e analisar o modo como o caso do jogador de futebol Edinson Cavani está totalmente relacionado com o politicamente correto e a liberdade de expressão. Assim, o objetivo principal é demonstrar de que forma é possível analisar o sucedido através das reações a nível nacional, do Uruguai e da Inglaterra, aplicando os conceitos reunidos a partir de estudos já realizados sobre a matéria em questão, à luz de autores como Manuel Monteiro, Mick Hume, Ricardo Araújo Pereira, George Orwell entre outros. Posto isto, através de uma pesquisa bibliográfica, foi possível reunir estudos desenvolvidos sobre temáticas idênticas, o que auxiliou ao desenvolvimento da análise. A polémica em torno do jogador uruguaio acerca de uma palavra que foi considerada racista pela Federação Inglesa de Futebol será referida e explicitada, de maneira a demonstrar como esta ilustra os problemas com a linguagem politicamente correta e a liberdade de expressão.


Palavras-Chave: Politicamente correto; Liberdade de expressão; Edinson Cavani; Racismo; Federação Inglesa de Futebol.


"I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" - Evelyn Beatrice Hall In The Friends of Voltaire

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Índice

  • Introdução

  • Capítulo I - A falar é que a gente se ofende

  • 1.1 - Politicamente Correto

  • 1.2 - Liberdade de Expressão

  • 1.3 - Redes Sociais

  • Capítulo II - Análise de caso

  • 2.1 - “Gracias negrito”, o caso do jogador de futebol Edinson Cavani

  • 2.2 - Reações e Argumentações

  • Conclusão

  • Bibliografia


Índice de imagens

  • Figura 1 - Story de Cavani, em resposta a um amigo. (Fonte: O Jogo)

  • Figura 2 - Publicação de Cavani, em resposta às críticas. (Fonte: O Jogo)

  • Figura 3 - A segunda publicação de Cavani (Fonte: ABC News)

  • Figura 4 - Tweet de resposta do grupo Kick It Out. (Fonte: ABC News)

  • Figura 5 – No room for racism (Fonte: SkySports)

  • Figura 6 - Vinho Gracias Negrito (Fonte: El Observador)


Introdução


A polémica em torno da publicação do jogador de futebol Edinson Cavani foi o tema que decidi escolher para analisar, pois trata-se de um estudo dos tópicos que mais tem apaixonado a opinião pública nos últimos anos: o politicamente correto e a liberdade de expressão, devido à influência direta de ambos no nosso quotidiano e na forma como vivemos em sociedade.


O tema foi escolhido com base nos meus interesses pessoais, uma vez que pretendia explorar mais a fundo o tema do politicamente correto, como afeta a comunicação bem como os média; como também sou apreciador de futebol, fui de encontro ao tema, porque já assisti a vários casos e o desfecho dos mesmos tende a ser semelhante. Esta polémica “mais recente”, despertou-me interesse por se centrar nas redes sociais, um meio que gosto particularmente de escrutinar por ser diferente das interações pessoais.


Destaco que este projeto tem motivações académicas, pois será o elemento final para a minha aquisição do grau de Licenciatura em Ciências da Comunicação, sendo que, ao longo do meu percurso académico, temas como o discurso politicamente correto, a liberdade de expressão e a censura foram dos que mais apreciei. Assim, recolhi informação através de livros, artigos e trabalhos científicos, assim como em debates em órgãos de comunicação social de referência. A pesquisa efetuada teve como base autores como Manuel Monteiro, Mick Hume, Ricardo Araújo Pereira, entre outros.


O projeto está dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo destaca-se em aspetos teóricos e divide-se em três subcapítulos, sendo que o 1.1 se foca na compreensão do politicamente correto, nas várias definições que são utilizadas para se referirem ao termo, utilizando alguns exemplos para uma melhor compreensão; o 1.2 demonstra como a liberdade de expressão é fundamental para o indivíduo e como se continua a tentar estabelecer limites, provocando conflitos; o 1.3 centra-se nas redes sociais e no seu impacto nos temas anteriormente explorados.


A segunda parte foca-se em algo mais prático, a análise do estudo de caso escolhido. Deste modo, o segundo capítulo divide-se em dois subcapítulos, sendo que o 2.1 explica e contextualiza toda a polémica relativamente ao story de Edinson Cavani, incluindo a decisão da Federação Inglesa de Futebol e aquilo que referiu no relatório, e o 2.2 foca-se nas diferentes opiniões e argumentos sobre o assunto, analisando cada perspetiva mencionada.


O objetivo deste trabalho é que o fenómeno do politicamente correto e da liberdade de expressão fiquem bem assimilados e que através de toda a pesquisa realizada acerca do tema, por meio de autores específicos, seja possível relacioná-la com o estudo de caso relativo ao jogador de futebol Edinson Cavani e como este é um bom exemplo que se relaciona com a liberdade de expressão e o politicamente correto.



Capítulo I - A falar é que a gente se ofende


1.1 - Politicamente Correto


O politicamente correto é um dos temas que mais tem apaixonado a opinião pública nos últimos anos, pois abrange uma diversidade de matérias (género, etnia, deficiência física, saúde mental, etc.) na imensidão de assuntos, como o humor, o futebol, a política, entre outros.


No livro Sobre o Politicamente Correcto, Manuel Monteiro, que irá ser referido ao longo deste projeto, levanta uma série de questões sobre o tema que dá título ao livro que escreveu. O autor reflete sobre este conceito difícil de definir, mas mostra-se consciente do perigo dos eufemismos, paternalismos e condescendências que se procuram com palavras e comportamentos nos últimos anos. Manuel Monteiro reponde à pergunta de como nasceu o politicamente correto? numa entrevista ao Observador1:


As pessoas costumam dizer que começou muito bem, com boas intenções. Nasceu com eufemismos e perífrases e formas paranoicas e doentias de se chamar às pessoas que tinham deficiências coisas cujo significado nem se percebia. Ou seja, quando se diz que começou bem, não começou logo mal, começou com um excesso, tornar a linguagem defensiva, a querer dizer que somos todos iguais. E isso é muito perigoso.

Este fenómeno requer um cuidado no modo como nos expressamos, o que acaba por dificultar a comunicação, com o risco de ser mal interpretado. Recentemente cada vez mais pessoas pensam mais antes de falar: isto acontece porque aqueles que se opõem ao politicamente correto são considerados racistas, homofóbicos, machistas, entre outros, por utilizarem palavras consideradas discriminatórias ou por comportamentos humanos preconceituosos (Monteiro, 2019, pp. 22-24).


De modo a existir uma salvaguarda para qualquer possível conotação negativa,


Uma pessoa que pretenda pôr em causa seja o que for deve começar sempre por explicitar as coisas que não põe em causa. [Além] de identificar aquilo que se propõe demonstrar, deve identificar igualmente aquilo que não se propõe demonstrar. (Chesterton cit in Monteiro, 2019, p. 27).

Cada um faz a sua própria escolha relativamente às palavras que utiliza, mas é muito fácil ser racista, homofóbico, xenófobo mesmo utilizando linguagem politicamente correta assim como optar por expressões que têm conotação depreciativa e não ser preconceituoso. As relações entre as pessoas, o contexto em que se inserem, devem ser tidos em conta (Monteiro, 2019, pp. 38-39).


As palavras têm contexto, dependem superlativamente das relações entre as pessoas que as proferem – não perceber isto não implica apenas não perceber o que é a dimensão pragmática da linguagem, mas também não perceber nada de relações humanas. (Monteiro, 2019, p. 38).

É necessário ter o contexto em conta, porque o contexto público e privado são bastante diferentes entre si e a tolerância zero trata-se de um simples cacete para bater em quem quer que profira a palavra errada. (Hume, 2016, p. 213-215)


Se não podemos dizer o que pensamos debaixo do nosso próprio tecto, não temos tecto. (Chesterton cit in Hume, 2016, p. 27).

É relevante salientar também a importância do contexto e o modo como se combate as desigualdades; não se baseiam na escolha de palavras certas, porque até pessoas do mesmo grupo podem ter opiniões diferentes relativamente à expressão que é considerada mais adequada.


Um exemplo disso é que nos Estados Unidos as pessoas de raça negra eram chamadas de black ou negro, mas mais tarde a expressão que se deveria utilizar era a de afro-american, no entanto, nem todos concordaram com essa nova denominação e até a acharam racista, preferiam black, que foi considerado como a expressão politicamente correta, passando para african-american e neste momento o termo usado é person of color.


Poderá no futuro ter outra designação, até porque já existe muita gente que não concorda com a expressão, por anular os negros. (Monteiro 2019, pp. 28-33)


Temos de andar com pezinhos de lã, porque nunca sabemos o que havemos de dizer. (Monteiro, 2019, p. 33).

Martin Luther King nos seus discursos usava a palavra negro, a palavra negro não só caiu em desuso, como antes era moralmente correta e agora é ofensiva. O “problema” segundo Ricardo Araújo Pereira na palestra Direito a Ofender2 em 2018 (com a presença de Mick Hume, autor do livro com o mesmo nome) não está na designação, mas sim nos problemas estruturais do grupo que é desfavorecido socialmente.


A importância do contexto na avaliação das palavras devia ter-se tornado mais óbvia nos últimos anos, à medida que as minorias procuram «recuperar» o tipo de linguagem que dantes era usada contra si. Os jovens Negros começaram a chamar «preto» uns aos outros, alguns membros da comunidade lésbica e gay apropriaram-se da palavra queer e, na Grã-Bretanha, até já se ouvem filhos de imigrantes asiáticos a referir-se a si mesmo com orgulho por pakis. Tudo isto devia ter tornado mais óbvio do que nunca que o contexto é o mais importante quando se avaliam palavras e que é uma loucura equiparar umas graçolas a intolerância. (Hume, 2016, p. 219).

Outro problema que surge quanto ao contexto é a censura, que está a ser imposta em manifestações culturais do passado, que fazem parte da história.


Quadros censurados para ´estimular o debate’, exposições canceladas de artistas acusados de assédio, atores proscritos, obras questionadas por petições… Como é que viemos aqui parar? E, sobretudo como é que passaremos a olhar para obras de artistas mal comportados. (Cunha, cit. in. Monteiro, 2019, p.109).

O contexto histórico também tem que de ser levado em consideração. A história é feita de muitas conquistas, mas também de aspetos menos bons. Obras de qualidade de grandes artistas estão a ser editadas ou apagadas apenas por não utilizarem os termos politicamente corretos atuais e até a vida pessoal dos artistas tem sido motivo para censurar a sua arte.


É com temor e tremor que encaro a proibição de uma palavra. Vejamos o exemplo de uma palavra impronunciável hoje; a n-word ou, sem receios, nigger […] Não há contexto histórico, não há referências epocais, não há sequer a possibilidade de se usar uma palavra para satirizar o racismo, há pena de morte para uma palavra, para as obras em que figura. (Monteiro, 2019, pp. 40-41).

O Politicamente Correto redunda muitas vezes em eufemismos e perífrases o que pode ser sinal de criatividade ou sensibilidade, mas há uma fina linha entre suavizar/mascarar e entre respeito/condescendência (Monteiro, 2019, p.56)


Ainda na entrevista ao Observador anteriormente referida, Manuel Monteiro reforça esta ideia:


Por exemplo, na cartilha do Lula, “pobre” era uma palavra que era utilizada para inferiorizar. Ao criticar o uso da palavra “pobre”, eles acabam por relativizar o conceito de pobreza. Não quero eufemismos para tratar fenómenos como a pobreza. Acho de um paternalismo enorme termos como o inglês “visually impaired” para falar sobre cegos.

A preocupação excessiva de não referir o óbvio e o uso de linguagem excessiva defensiva, até quando não reclamada pelos grupos visados, sugerem que se está a esconder algo vergonhoso – e isso NÃO é olhar o Outro como igual. (Monteiro, 2019, p.63)


1.2 - A Liberdade de Expressão


A Liberdade de expressão significa que o que outras pessoas dizem ou escrevem não tem de ser conforme ao que qualquer outra pessoa prefira. Mau gosto ou bom gosto, ofensivo ou atrativo, mordaz ou aborrecido, o que importa é que seja livre (Hume, 2016, pp. 34-35).


Se és a favor da liberdade de expressão, isso significa que és a favor da liberdade de expressão precisamente para as ideias que detestas. Caso contrário não és a favor da liberdade de expressão. (Chomsky, cit in Monteiro 2019, p. 68)

No Festival Literário da Madeira de dia 13 de março de 2018, Mick Hume aborda o tema dizendo “Existe o direito à liberdade de expressão e à liberdade de ouvir tudo para podermos julgar o que é verdade.” Ou seja: cada pessoa deve ser livre de dizer o que quiser — até as coisas mais chocantes –, para que os outros possam construir a sua própria opinião. Sem filtros ou paninhos quentes. (Observador3, 14 de março de 2018.)


O politicamente correto tenta promover a igualdade, mas desta forma acaba por controlar a mesma, como se apenas permitisse um determinado grupo de pessoas manifestar as ideias que defendem, o que está errado, visto que a liberdade de expressão tem de ser unânime.


O politicamente correto é um caso clássico de censura à liberdade de pensamento, por isso, sob ele, o pensamento público fica pobre e repetitivo, por isso medíocre e covarde. Quando se acentua a igualdade na democracia, amplia-se a mediocridade, porque os covardes temem a liberdade. (Pondé, 2012, p. 18).

A liberdade de expressão e a interferência do politicamente correto deveria centrar-se no direito de exprimirmos o que pensamos, ouvindo a opinião dos outros mesmo quando difere da nossa; contudo tornou-se uma espécie de questão que está cada vez mais relacionada com o gosto pessoal, mas o mesmo não deveria ser argumento para tentar silenciar alguém por ter uma opinião diferente.


O mal particular em silenciar a expressão de uma opinião é que constitui um roubo à humanidade: à posteridade, bem como à geração atual; àqueles que discordam da opinião, mais ainda do que àqueles que a sustentam. Se a opinião for correta, ficarão privados da oportunidade de trocar o erro por verdade; se estiver errada, perdem uma impressão mais clara e viva da verdade. (Mill, 2011, p. 43).

Ricardo Araújo Pereira4 defende esta ideia de que proibir determinadas opiniões impede que estas sejam contestadas. A ideia de calar uma ideia não é rebater essa ideia, em entrevista ao Jornal i, “Parece-me que deixar um idiota falar é quase sempre menos nocivo do que calá-lo. Às ideias de que não gostamos responde-se com ideias de que gostamos. A minha posição sempre foi essa.”


A melhor maneira de lutar contra ódios e ideias que desprezamos não é tentar enterrá-las vivas, mas sim trazê-las à luz do dia e debatê-las até ao tutano. (Hume, 2016, p. 44).

Acrescentando “Quando nazis põem um cartaz no Marquês de Pombal, o meu impulso nunca é cobri-lo ou retirá-lo: é colocar outro cartaz ao lado a fazer pouco do deles.” O que vai de encontro à ideia de No Plataform.


No Plataform [Não lhes deem plataformas] (…), ganhou um espectro mais abrangente, procurando banir todos os que possam ofender alguém, desde comediantes a sociedades filosóficas. Os manifestantes da “No Plataform” querem calar ou travar preventivamente oradores que consideram ofensivos. (Hume, 2016, p. 25).

A frase atribuída às ideias do filósofo francês Voltaire “I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it” é precisamente o que está em questão; hoje em dia, não estamos perante este pensamento, mas sim numa época dos contra-Voltaires.


A primeira coisa que nos esquecemos é que a locução «liberdade de expressão» inclui a palavra «liberdade». A segunda é que se trata simplesmente de «expressão», de palavras. (Hume, 2016, p. 33).

Na liberdade de expressão é essencial distinguir as palavras de ações, todos têm o direito de exprimir as suas opiniões, mas isso não significa que as suas ações correspondam àquilo que dizem, muitas vezes opiniões ofensivas são confundidas com ações, ou seja, as opiniões deixam de ser entendidas como tal e passam a ser consideradas ações. Neste contexto, a liberdade de expressão não está a ser utilizada como o direito que é, uma vez que as pessoas têm tendência a aceitar somente aquilo que corresponde aos seus ideais.


1.3 - Redes Sociais


As redes sociais surgiram e intensificaram ainda mais a comunicação livre, pois têm possibilitado o desenvolvimento da interação, da participação, da divulgação e do consumo. É também neste espaço que o politicamente correto está presente, pois os seus utilizadores são constantemente avaliados através do que dizem e escrevem. Como este sistema facilita a produção e a disseminação de opiniões controversas, começam a surgir novos grupos, fortalecem aqueles já existentes e os grupos minoritários ganham destaque. (Christofoletti, 2009, pp. 17-19).


O problema, segundo Ricardo Araújo Pereira, é quando um grupo de pessoas, nas redes socias de uma forma orgânica ou informal, se juntam e conseguem calar a pessoa que disse uma coisa que não gostam, fechando o seu perfil ou exigindo o despedimento dessa pessoa: este tipo de penas pode potencialmente tornar-se perpétuo.


Que vai de encontro do que George Orwell escreveu num prefácio não usado de Animal Farm “If liberty means anything at all, it means the right to tell people things they do not want to hear”.5


No podcast Prōfectus6 , para o qual Ricardo Araújo Pereira foi convidado, aborda, entre outros assuntos, a importância do contexto em ligação com o cancel culture, “Às vezes esse cancelamento assenta sobre uma interpretação absurda do que foi dito ou de uma interpretação da vida do autor, que está a ser julgado em 2020 por coisas que fez há 400 anos.” Vários sketchs do grupo de humor Gato Fedorento, um em específico que continha a palavra nigga, em 2007, foi um sucesso tão grande que entrou no álbum Amor, Escárnio e Maldizer dos Da Weasel; hoje em dia seria impossível de acontecer,


Ainda no podcast, Ricardo Araújo Pereira aborda esta mesma situação: “Sketchs nossos que foram feitos há 10 ou 15 anos atrás e que hoje provavelmente fariam aquilo que os jornais costumam designar por «incendiar as redes sociais»”


Completando o raciocínio dizendo que basta a utilização de uma palavra, não precisa de ser o sketch em si, pois existe uma certa inclinação para a literalidade e certas palavras são consideradas simplesmente impronunciáveis; desta maneira o contexto com que a palavra é dita não interessa.


Se há coisa que corremos o risco de perder é o significado das palavras. Que linguagem é que as pessoas podem utilizar para se expressarem hoje em dia? As regras e os códigos estão sempre a mudar e, em geral, a diminuir os termos aceitáveis nos debates. (Hume, 2016, p. 282).

O ano de 2020 além de ser marcado pela pandemia Covid-19, Black Lives Matter, foi considerado, segundo Julia Carrie Wong, o ano das Karens7 , um meme que ficou bastante conhecido em toda a internet8 , associado frequentemente com o racismo. A TAB9 descreve o termo como:


Uma Karen pode ser muitas coisas, e não apenas uma mulher branca de classe média-alta que usa a cor da própria pele para prejudicar minorias raciais, chamando a polícia. Ela é a mulher irritante adepta do corte de cabelo bob cut que pergunta "posso falar com o gerente?" quando não consegue o que quer nas lojas e restaurantes. Ela também chama a polícia quando vê crianças e adolescentes a brincar em lugares onde, segundo ela, não deviam brincar. Muitas Karens recusam-se a usar máscara durante a pandemia e frequentemente são interpretadas como eleitoras de Donald Trump. […] As Karens vão além dos memes. Karens são um fenômeno linguístico, da cultura popular e da história dos EUA — e podem representar verdadeiros riscos para a vida de não-brancos.

No entanto, esse mesmo meme foi considerado sexista, como se fosse um ataque às mulheres, o termo Karen não se trata de uma menção genérica a mulheres brancas de meia idade - é definido pelo comportamento da pessoa, para além que Karen é utilizado como nome próprio, se a abordagem que tem sido feita nestas situações, se aplicar neste caso, todas as pessoas com o nome Karen teriam de mudar de nome para se deixar de usar este termo considerado ofensivo.


O foco nunca foi o ataque a alguém em específico, mas sim ao tipo de atitudes como o racismo, a negação do uso da máscara, a hipersensibilização de considerar tudo como uma ofensa.


O espaço virtual, que deveria ser um espaço de comunicação livre, começou a limitar os discursos de cada um, principalmente os considerados ofensivos, como se os mesmos não pudessem ser referidos em espaços como as redes sociais, ou seja, não pode existir discurso ofensivo ou contraditório, o que é basicamente impossível, uma vez que os diálogos através das redes sociais são propícios a discutir diferentes pontos de vista.


Em 2019, Rui Sinel de Cordes10, publicou um vídeo no Instagram onde começa por dizer: “Considero absolutamente ignorante, idiota, perigoso, mas acima de tudo irresponsável qualquer ataque à liberdade criativa” revelando-se contra a ação tomada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, em conjunto com outras associações e pessoas independentes, contra uma alegada banalização da “violência contra as mulheres” na música de “B.F.F.” do rapper Valete.


“Acho que não podem ficar calados quando, em 2019, um músico é perseguido porque está a ser demasiado criativo”, considerando “estapafúrdio” que o músico esteja a ser acusado de “machismo e incentivo à violência doméstica” por ter criado o tema no qual aborda uma cena de violência doméstica.


Encontrando uma única explicação: “Só é possível numa sociedade profundamente doente, onde o idiota da aldeia tem voz ativa e os seus seguidores mais idiotas ainda se tornam”. Rui Sinel de Cordes entende as críticas feitas a Valete como um ataque à liberdade de expressão, que não pode ser aceite no panorama português atual, fazendo apelo à leitura do livro 1984 de George Orwell. (TVI24, 3 de outubro de 2019)


As tentativas dos chamados “cancelamentos” têm ocorrido com muita frequência nos últimos anos: começou a existir uma espécie de caça à ofensa, com o intuito de acabar com as carreiras das pessoas, procurando publicações antigas.


Este tipo de prática de pesquisa tem sido uma prática comum de muitas empresas, que fazem uma pesquisa intensa do possível trabalhador nas redes sociais, antes de fazer qualquer tipo de contrato, estes tipos de práticas acabam por se tornar um atentado à liberdade de expressão e à liberdade individual.



Capítulo II - Análise do caso


2.1 - “Gracias negrito”, o caso do jogador de futebol Edinson Cavani


No dia 29 de novembro de 2020, após o triunfo do Manchester United em Southampton, num encontro da Premier League em que Edinson Cavani marcou dois dos três golos da equipa, foi felicitado por um amigo de infância no Instagram. Asi te quiero, Matador [Assim é que gosto de ti, goleador], ao qual o uruguaio respondeu: Gracias, negrito [Obrigado, negrinho] avançou o Jornal O Jogo11, no dia seguinte do acontecimento.














No entanto, a publicação do argentino foi alvo de críticas e fortes acusações de racismo por parte dos utilizadores das redes sociais, o que levou Edinson Cavani a fazer uma publicação no dia seguinte no Instagram, onde respondeu às críticas, pedindo desculpa e referindo que é totalmente contra o racismo e não era sua intenção ofender alguém, apenas queria agradecer ao seu amigo, apagando a mensagem, quando foi informado que poderia ser mal interpretado.








No seguimento deste incidente, a Federação Inglesa de Futebol (Footbal Association) aplicou uma suspensão de três jogos, uma multa de 100 mil libras o que corresponde a cerca de 112 mil euros e ainda participação obrigatória numa ação de formação educacional ao jogador dos red devils, por ter violado as regras da FA. (Diário de Notícias / Lusa, 31 de dezembro de 2020). 12



Assim, a FA considerou a publicação insultuosa e/ou imprópria, uma vez que viola a regra E3, nos dois pontos seguintes: 13


• E3.1

Um participante deve sempre agir no melhor interesse do jogo e não deve agir de forma que seja imprópria ou leve o jogo ao descrédito ou usar qualquer um, ou uma combinação de conduta violenta, jogo sujo grave, ameaçador, abusivo, palavras ou comportamento indecente ou ofensivo.


• E3.2

Uma violação da Regra E3.1 é uma "Violação agravada" onde inclui uma referência, expressa ou implícita, a qualquer um ou mais dos seguintes: - origem étnica, cor, raça, nacionalidade, religião ou crença, género, mudança de sexo, orientação sexual ou deficiência.


Cavani não contestou a decisão da FA, mas ressaltou a sua inocência, alegando que a resposta não foi com qualquer malícia.






O grupo antidiscriminação Kick It Out14 concordou com o castigo atribuído ao uruguaio, dando a sugestão que seria benéfico para os jogadores estrangeiros, que vêm jogar para a Inglaterra, receberem educação sobre o idioma ou comportamentos que podem ser inaceitáveis neste país. Isso ajudaria a evitar que situações, como esta de Cavani e outros jogadores, ocorressem novamente no futuro.




A Comissão da FA ao tomar a sua decisão teve em consideração vários aspetos, como o facto de o story ter sido eliminado, quase de imediato, pelo jogador; como a publicação não ter sido feita de modo racista nem ofensivo; como o jogador e o Manchester United, o seu clube, tomaram medidas para assegurar que Edinson Cavani tivesse uma maior compreensão das suas próprias responsabilidades nas respetivas redes sociais; como o mesmo ter feito uma admissão antecipada em plena cooperação com o processo disciplinar e, por fim, o facto de o uruguaio ter um carácter exemplar e um bom registo disciplinar.



A Premier League15 em fevereiro de 2021 lançou um plano de ação, No Room for Racism, O plano traça uma série de compromissos que visam criar maior acesso a oportunidades e progressão na carreira para negros, asiáticos e outros grupos étnicos minoritários no futebol, e ações para erradicar o preconceito racial. Com o slogan - There is No Room For Racism. Anywhere.


O organismo soberano do futebol inglês tem um histórico de atuação pesada em situações deste género. No ano passado, Bernardo Silva foi punido com um jogo de suspensão depois de no Twitter ter comparado o colega de equipa Mendy à marca de chocolate Conguito. Apesar de se tratar de uma brincadeira que o próprio companheiro desvalorizou, o internacional português acabou por ser castigado, num processo semelhante ao de Cavani. (MaisFutebol16 a 30 de novembro de 2020).



2.2 - Reações e Argumentações


Ole-Gunnar Solskjaer, treinador do Manchester United, defendeu Edinson Cavani relativamente às acusações de racismo. Segundo o Jornal O Jogo, a 1 de dezembro de 202017 , o técnico dos red devils referiu,


"Explicámos-lhe, ele já foi contactado pela federação para dar explicações e claro que vai cooperar. Ele tem o nosso apoio. É uma situação infeliz. Acabou de chegar a este país, no Uruguai é uma expressão usada num sentido diferente. Apoiamos o jogador, como também apoiamos a federação. É importante que a federação lhe tenha pedido explicações porque nós apoiamos a luta contra a discriminação. Li que o Gary Neville disse que os jogadores que chegam a este país provenientes de outras culturas deviam ser educados, mas tenho a certeza que o Edinson aprendeu a lição.” (Solskjaer, 2020).

Além disso, o norueguês também elogiou o profissionalismo do avançado


“Existe uma barreira linguística, mas ele é muito profissional, muito meticuloso e tudo o que faz é para ser o melhor. É um grande colega, um jogador de equipa e estou impressionado com a sua atenção ao detalhe”. (Solskjaer, 2020).

Culminando a sua intervenção com uma piada: "Até agora só aprendeu duas palavras em inglês: tomorrow off (folga, em português)".


As afirmações do treinador vão de encontro ao que foi escrito no site do clube inglês Manchester United


"Como ele declarou, Edinson Cavani não sabia que suas palavras poderiam ter sido mal interpretadas e ele se desculpou sinceramente pela postagem e a todos os ofendidos. Apesar de sua crença sincera de que estava simplesmente a agradecer a uma mensagem de parabéns de um amigo próximo, ele optou por não contestar a acusação, por respeito e solidariedade à FA e à luta contra o racismo no futebol. Embora esteja claro que o contexto e a intenção são fatores-chave, observamos que a Comissão Reguladora independente foi obrigada a impor uma suspensão mínima de três jogos. O clube confia que a Comissão Reguladora independente deixará claro que Edinson Cavani não é racista, nem houve qualquer intenção racista em relação ao seu cargo."18

A Associação Uruguaia de Futebol (AUF) acusou a FA de ser discriminatória em relação à cultura do Uruguai, após o castigo que foi aplicado a Edinson Cavani, tendo dito em comunicado oficial o seguinte:


“Firstly, we must condemn the arbitrary conduct of the English Football Association. Far from condemning racism, the English FA has itself committed a discriminatory act against the culture and way of life of the Uruguayan people. The sanction shows the English FA's biased, dogmatic and ethnocentric vision that only allows a subjective interpretation to be made from its particular and excluding conclusion, however flawed it may be. "Edinson Cavani has never committed any conduct that could be interpreted as racist. He merely used a common expression in Latin America to affectionately address a loved one or close friend. To sustain that the only way to obtain a valid interpretation in life is that which lies in the minds of the managers of the English FA is actually a true discriminatory act, which is completely reprehensible and against Uruguayan culture. We would therefore like to publicly defend Edinson Cavani's impeccable character and of course our country's culture. We are all against any kind of discrimination; however, unfortunately, through its sanction, the English FA expresses absolute ignorance and disdain for a multicultural vision of the world, respectful of its plurality, by erroneously, unilaterally and rigidly imposing its anti-racist rules, the basis of which we support but are obviously not realistically applicable to the case in question here.It has not just punished one person, but also our whole culture, our way of life, which is truly a discriminatory and racist act.”.19

Finalizando com um pedido para retirar todos os castigos aplicados ao ponta de lança uruguaio.


Este pedido também foi feito pela Academia Nacional de Letras do Uruguai20, que denunciou o caso ao grupo antidiscriminação Kick It Out, afirmando que qualquer usuário da língua sabe que a palavra tem um sentido afetivo, totalmente livre de qualquer nuance discriminatória ou racista. Em defesa de Cavani, a Academia cita o significado que está presente no Dicionário da Língua Argentina: “Negro, gra. Coloquial). Tratamento de confiança que substitui o primeiro nome e serve para chamar, pedir atenção ou direcionar a palavra” e o uso do diminutivo, para esses linguistas, intensifica o sentido afetivo.


Sanjay Bhandari21 , representante do grupo Kick It Out, destaca que tudo se resume ao contexto; na América do Sul a palavra específica que foi usada é um termo carinhoso e não ofensivo. Mas a palavra não foi usada no Uruguai, a pergunta que Bhandari faz é: A palavra é ofensiva na Inglaterra? No seu entender o que aconteceu pode estar a ser motivado pelo incidente de Suárez-Evra em 2011: a palavra infiltrou-se na língua inglesa e começou a ser usada num contexto ofensivo. É claro que Cavani usou isso quando estava a conversar com um amigo, foi um gesto amigável.


Mas a FA não olha só para a intenção, olha para o efeito das pessoas ficarem ofendidas com o uso dessa palavra, é por isso que considera um pouco mais complexo. Reforçando a possibilidade de um problema maior, porque qualquer pessoa que vá morar num país diferente pode entrar em conflito com a cultura local, significados diferentes, palavras diferentes. Assumindo que têm a responsabilidade de proteger os jogadores do exterior, certificando que tenham a educação necessária para entender que há certas coisas que são feitas em uma cultura que são ofensivas noutra cultura, assim como o contrário.


A indignação sobre o castigo fez-se notar: a hastag #graciasnegrito 22 foi tendência nas redes sociais, no Uruguai, o que também aconteceu na Argentina, como forma de apoio a Cavani, sendo usado por diversos jogadores como forma de protesto contra o castigo aplicado a ao ponta de lança.


O caso de Cavani gerou até oportunidades de negócio, quando no seguimento de toda a polémica, Silvina Rosas, que trabalhou durante 13 anos em adegas uruguaias, fez uma fotomontagem que viralizou com uma garrafa de vinho com o rótulo Gracias Negrito, "Foi uma forma de acompanhar o sentimento de injustiça, que indignou todos os uruguaios. A ideia era que ele pudesse sentir o apoio com algo tão uruguaio como o vinho". Os pedidos de compra deste vinho foram tantos, que decidiu avançar com a ideia, tornando o vinho uma realidade, avançou o jornal uruguaio El Observador. 23







A Conmebol24 demonstra também o seu apoio a Cavani e soma a outras manifestações favoráveis ao uruguaio feitas por jogadores sul-americanos e instituições uruguaias, fazendo um comunicado a dizer que referências a qualidades físicas, morais ou pessoais de outras pessoas são usadas em todas as línguas do mundo para a criação de expressões para tratar os outros.


Em alguns contextos, têm um teor negativo, mas, muitas vezes, os mesmos termos podem ser considerados afetuosos ou amigáveis. A medida disciplinar para o jogador destacado da seleção uruguaia claramente não leva em consideração as características culturais e o uso de certos termos na fala quotidiana do Uruguai.


O julgamento desses tipos de declarações, no âmbito de um processo que pode acarretar em penalidades para o atleta e que afetam sua reputação e bom nome, deve ser sempre realizado levando em consideração o contexto em que foram feitas e, sobretudo, as peculiaridades culturais de cada jogador e de cada país. A Conmebol condena e sempre condenará com a maior energia qualquer manifestação racista ou discriminatória, mas o caso específico no qual Cavani foi sancionado não constitui uma delas. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu às críticas, esclarecendo que não considera que o atacante uruguaio do Mancheser United seja " racista".25


Em declarações recolhidas por vários meios de comunicação ingleses, um porta-voz da FA mostrou-se surpreendido que um jogador com cerca de 8 milhões de seguidores nas suas redes sociais não tenha “implementado um treino específico de vocabulário adequado para utilização das redes sociais” pelo clube.


A FA explicou ainda que a sanção de três jogos era a penalidade mínima e que o fizeram porque tanto o clube quanto o jogador "tomaram medidas para garantir que o jogador entenda melhor suas responsabilidades nas redes sociais". As circunstâncias do caso deste jogador foram de tal importância que a punição mínima foi garantida para evitar um resultado injusto", acrescentou. "Embora esteja claro que o contexto e a intenção são fatores-chave, a comissão reguladora independente foi obrigada a impor uma suspensão mínima de três jogos".


Também foi lembrado que Cavani terá que fazer um curso presencial sobre o assunto, para ser informado sobre as orientações culturais que deverá atender a partir de agora.


Luis Cavani26 , pai do jogador, até admitiu que, depois da decisão da FA, o seu filho não se sentiria confortável em continuar a jogar na Premier League e possivelmente iria regressar para a América do Sul. Deixando uma mensagem sobre toda a polémica “Há coisas que às vezes nos incomodam como humanos, como pessoas; toda esta polémica do racismo e da sanção o incomodou. Isto tem mexido com ele, às vezes os jogadores também não conseguem encontrar forma de ultrapassar a situação, estas coisas podem pesar muito numa pessoa, o que pode meter-nos mentalmente em baixo." Cavani até há data deste projeto, mantém-se no clube.


Em Portugal, este caso não passou despercebido. Carla Quevedo27 , no programa Irritações, demonstra a sua irritação perante o caso “É uma palavra que não tem nada a ver com o racismo” de que é acusado, considerando inaceitável qualquer tipo de castigo associado à publicação. No Diário as beiras28 , Gonçalo Capitão dá o seu parecer sobre o caso de Edinson Cavani, referindo o caso do português Bernardo Silva.


"Em meu entender, já raiava o disparate a punição a Bernardo Silva por ter comparado uma fotografia de infância do seu companheiro e amigo Mendy ao boneco dos chocolates Conguito, já que o próprio testemunhou que não se sentia minimamente ofendido. No entanto, cedo na questão do bom-gosto da brincadeira…O caso de Cavani é que já não consigo entender, por me parecer que estamos a colonizar novamente, agora pela via do complexo de culpa. Cavani terá respondido gracias, negrito a um comentário de um amigo na sua conta de Instagram. Imediatamente a Football Association veio reputar o comentário de abusivo, qual guardiã da moral universal. Acto continuo, as Academias de Letras de Argentina e Uruguai chamaram a atenção para o que devia ser óbvio: a necessidade de contextualizar as expressões e de não ver o mundo com lentes eurocêntricas. Nestes países, como na Venezuela, a expressão mi negro ou negrito, mormente entre latinos, é sinónimo de carinho e amizade. Como em tudo, nem oito nem oitenta.”

Neste caso do Cavani é possível concluir que o politicamente correto também está presente em assuntos como o futebol, o modo como os próprios jogadores se expressam fora de campo pode ser bastante prejudicial para os mesmos por ser mal-interpretado pela comunidade. O story de agradecimento de Cavani foi considerado racista e teve consequências; existiu neste caso uma hipersensibilização; a liberdade de expressão, hoje em dia, tenta controlar o discurso para que não seja desagradável para ninguém, este controlo silencia diversos discursos e opiniões. É possível também compreender que o contexto é ignorado por completo: trata-se de uma questão de linguagem que foi encarada como racista, é fundamental ter em consideração as relações que existem entre as pessoas e o contexto cultural; o amigo de Cavani não se mostrou ofendido e negrito é usado frequentemente no Uruguai não tendo qualquer tipo de conotação negativa. De facto, o racismo continua presente por todo o mundo, mas fica a ideia de que talvez situações como estas não devem ter qualquer impacto e que o foco deve recair por outras situações em que há claramente um ato de racismo. Qualquer palavra pode ofender alguém; a solução não é excluir essas palavras, porque ficaríamos sem poder dizer nada.



Conclusão


O objetivo principal deste projeto era compreender o caso de Edinson Cavani, tendo em conta o uso que a sociedade dá ao politicamente correto e à liberdade de expressão.

Após a sua realização, conclui-se que os objetivos pretendidos foram cumpridos, pois a realização deste trabalho alargou todo o conhecimento que tinha sobre a área em questão.

Assim sendo, foi possível assimilar, através de uma pesquisa mais profunda, alguns conceitos-chave e ideias principais relacionadas com o politicamente correto e a liberdade de expressão, o que auxiliou na análise do último capítulo.

Através dos estudos realizados foi possível compreender que, apesar da liberdade de expressão ser um direito unânime e que deve ser beneficiar todos, a mesma é restringida em diversos contextos, sobretudo, no espaço público, o que provoca conflitos constantes, nomeadamente nos meios de comunicação social.

Por outro lado, o politicamente correto é um fenómeno de difícil de definir, no entanto facilmente identificável na prática.

Com a polémica em torno de Edinson Cavani, foi possível compreender como o politicamente correto também marca presença no futebol e, como dentro ou fora de campo, o que é dito é alvo de censura por parte da sociedade, interpretando de forma errada o que é escrito ou dito, tal como aconteceu no caso de Cavani.

Após toda esta investigação e pesquisa, foi possível fazer a análise do tema através da recolha de opiniões distintas e de argumentos de ambos os lados, que foram utilizados sobre o assunto.

Resumindo, a realização deste projeto permitiu-me compreender, tanto a nível teórico como de análise, que o politicamente correto e a liberdade de expressão são fenómenos cada vez mais presente nos média e nas redes sociais que influenciam a nossa comunicação.



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